Esse filme requer certa preparação. Assisti-lo sem saber o que esperar não é uma boa escolha, já que é uma história repleta de tensão e reviravoltas, além de longa.

A abordagem do enredo é inesperada para uma história sobre inteligência artificial. Assim como Asimov em "Eu, Robô", a história envolvendo robótica é apenas um canal para abordar diversos questionamentos filosóficos sobre os próprios humanos.

A questão criador-criatura existente no filme pode ser replicada para diversos níveis possíveis: humano-robô, Deus-humano, etc. Os limites dessa relação são também questionados nas falas de diversos robôs, que afirmam que, embora os humanos os tenham criado, o fizeram em muita quantidade e com muita qualidade - o que os deixa amedrontados sobre o resultado - e, portanto, mostra uma visão meramente utilitária e indiferente do criador.

Em diversos momentos, a ingenuidade dos robôs é também demonstrada, e colocada em contraste com a maldade humana. O caráter fantasioso da história, porém, se encarrega de fazer com que essa ingenuidade dê continuidade à busca do pequeno robô David por seu sonho, o que nos leva a outros questionamentos: quão longe é possível ou desejável ir por um objetivo? Quais os limites entre a obsessão e a admirável resiliência?

Ao final do filme, diversas questões pairam sobre o espectador, porém devido ao comprimento do filme e ao constante estado de tensão mantido pelo próprio enredo e pela trilha sonora, são dispersos e embaralhados. Definitivamente, é um filme que exige um processo de digestão um tanto demorado e, em alguns momentos, incômodo. Talvez seja necessário assisti-lo mais de uma vez, porém essa necessidade não parece vir acompanhada do desejo de fazê-lo.